DESDE 2016, INVESTIMENTO EM INFRAESTRUTURA NÃO REPÕE DEPRECIAÇÃO DOS ATIVOS, APONTA IPEA
A partir do ano de 2016 o investimento em infraestrutura no país não supera a depreciação dos empreendimentos do setor. A recuperação – tornando esse saldo positivo – se deu de forma tênue só em junho de 2020, não por aumento dos investimentos, mas por conta do aumento da depreciação de empreendimentos e serviços do gênero ter se ampliado.
Essas informações são de uma pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgada no último dia 8. Foram feitas estimativas de investimentos líquidos em produtos e construção desde o ano de 1947 até junho de 2020. A pesquisa está neste link.
O trabalho dos pesquisadores José Ronaldo de C. Souza Júnior, diretor da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, e Felipe Moraes Cornelio, assistente de pesquisa, mostrou que o investimento líquido em infraestrutura foi negativo, ou seja, não superou os custos com a depreciação dos ativos nos anos de 2016, 2017, 2018 e 2019.
"A partir de 2016, o investimento bruto já não era mais suficiente sequer para repor a depreciação do capital instalado na economia – investimento líquido negativo. Apenas recentemente, no início deste ano, o investimento líquido voltou a ficar positivo no acumulado em doze meses. A própria queda do estoque nos anos anteriores contribui para a redução dos dispêndios com reposição de depreciação e, por consequência, para a melhora dos investimentos líquidos", revela texto sobre o trabalho, disponível neste link.
Em entrevista à Agência iNFRA, Souza Júnior lembrou que a volta dos investimentos neste ano ainda é tímida.
"Nos últimos anos houve uma redução do estoque de capital e isso diminuiu o gasto necessário para repor a depreciação. Ao mesmo tempo, os investimentos aumentaram recentemente, mesmo que de forma tímida. Essa combinação de fatores levou a uma mudança de sinal: o investimento líquido passou a aumentar no início deste ano e com isso o estoque de capital voltou a crescer", disse o diretor Souza Junior.
Falta de confiança
Para Cláudio Frischtak, economista da Inter.B Consultoria, os motivos da perda de investimentos em infraestrutura também foram a falta de confiança ocasionada pelo cenário político.
"Tivemos uma crise econômica no último trimestre de 2014 e entramos em recessão, fruto fundamentalmente da sequência de erros macro e microeconômicos cometidos no primeiro governo Dilma; de tal forma que as contas públicas foram destruídas e outros setores também foram atingidos. O nosso país pré-pandemia pouco cresceu pós-recessão", constatou Frischtak.
Para ele, os investidores de infraestrutura e outros setores estão mais ariscos: "Investir é por definição uma aposta no futuro, precisa-se de visibilidade, retornos, segurança jurídica, uma regulação previsível. Isso são coisas que faltam".
Mas, Frischtak mostra otimismo com o que o Brasil apresenta, pois há características básicas que servem de atrativos.
"O fato de os investimentos ainda acontecerem se dá por conta do nosso grande território com muita demanda. Segundo lugar, há um programa em curso, o PPI [Programa de Parcerias de Investimentos], de classe mundial de concessões. Temos um mercado em potencial, a agricultura, a mineração, que representam demanda em serviços de infraestrutura."
Investimento de 4% do PIB
Ele acrescenta que o capital direcionado à infraestrutura deve ser um pouco mais robusto e constante por um determinado período, lembrando que o patamar atual, de cerca de 2%, mostrado no trabalho é muito pouco.
"Precisaríamos estar investindo 4% do PIB durante duas décadas consecutivas, ou seja, seria preciso um adicional de R$ 150 bi anualmente por duas décadas para modernizarmos nossa rede de infraestrutura", disse Frischtak.